Ela sentou-se e parou por momentos tentando pensar em alguma coisa em concreto. Queria uma solução rápida, sem mais rodeios nem adiamentos.
As soluções rápidas são seguras?
''Será que fiz o que realmente deveria ter feito? Será que fiz demais? Ou será que fiz muito mas de forma errada?''
Agora já estava feito, já não podia simplesmente virar as costas e fingir que nada daquilo tinha acontecido. Fingir que nem sequer se tinham cruzado, tão pouco se tinham envolvido ou criado laços.. porque ela já os tinha criado à muito, como os nós apertados das sapatilhas outrora usadas nas suas corridas ao fim do dia, quando ainda reservava algum tempo util para ela mesma. E ele? Teria ele criado alguma ligação? haveria algo que o prendesse àquela criatura na flor da idade ou era simplesmente o conforto que ela lhe dava que o mantinham ali sentado?
Como seria se ele tivesse tido a oportunidade de escapar mais cedo? Teria ele ficado? Teria ele partido?
'Agora é tarde demais.' Nunca é tarde demais
Ela sabia que ele um dia iria seguir outro rumo, aquilo não seria para sempre. Mas, lá bem no fundo, ela tinha uma pequena esperança de que ele pudesse ficar por mais tempo. Por muito tempo.
'Porquê!? Porque tens de ir!? Não tens de ir, eu aguento o barco pelos dois! Melhores dias virão, eu viro-me do avesso se for preciso! Vais ver que resulta, vamos tentar! Não vás... olha para mim... não vás...'
Mas ele iria.Ela sabia disso, só não sabia quando. Já sentia o sabor amargo da despedida.
Restava-lhe recordar os bons momentos.
Quando ele chegou com o seu jeito descontraido, a fome de viver no limite como se o amanhã pudesse não chegar.
Os abraços demorados, as noites frias, as longas conversas.
Os abraços demorados, as noites frias, as longas conversas.
Os brindes que fizeram por tudo, por nada, por coisa nenhuma.
O cheiro da comida boa que ele preparara tantas vezes.
O sorriso.
O cheiro da comida boa que ele preparara tantas vezes.
O sorriso.
O silencio insurdecedor.
O som da chave na porta quando ele chegava.
A gargalhada.
O silêncio.
O som da chave na porta quando ele chegava.
A gargalhada.
O silêncio.
''Isto aconteceu mesmo."
Era inevitavel, eles já se tinham cruzado, já se tinham conhecido, partiram para a experiencia de partilhar o mesmo tecto e, quase que inevitavelmente ela apaixonou-se.
Como seria possivel não gostar de alguem como ele?
Ele ia mesmo embora.
Talvez voltasse mesmo como dizia.
Ou talvez descobrisse outra experiencia que o fizesse querer ficar por lá.
Talvez voltasse mesmo como dizia.
Ou talvez descobrisse outra experiencia que o fizesse querer ficar por lá.
''Tenho de ficar feliz por ti. Guardar tudo o que me ensinas-te mesmo sem saberes. Isto aconteceu mesmo. Afinal é mesmo possivel ser feliz sem ter medo de o ser.''
É este o comboio da vida. Pode parar por momentos mas em alguma altura ele voltará a seguir linha fora.
Sobram os restos de ti, e de restos ninguém vive.
Sobram os restos de ti, e de restos ninguém vive.
Está na hora do embarque.
Alguem pode ligar ao S. Pedro e pedir-lhe para abrir uma janela? É que já não se aguenta o calor.
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