sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

A minha Avó

Faz hoje 2 anos que perdi a minha avó.

É difícil para mim falar sobre isso e a única maneira, a melhor que tenho, de falar sobre isso é escrevendo. Por mais que escreva, não vão haver palavras certas nem suficientes que mostrem o quão magnifica e importante ela era para mim.

A minha avó nasceu a 26 de Agosto de 1933, nos tempos em que se cosiaam as meias rotas e se ia lavar a roupa ao rio. Eram tempos pobres mas humildes. As famílias viviam do campo e de alguma maneira não faltava nada. Tinha pouco, mas o pouco que tinha dava sempre para repartir com alguém. Mais vale 2 com pouco que um sem nada.
Calçou os seus pés pela primeira vez aos 14 anos, uns sapatos emprestados para ir a um casamento.

A minha avó fazia as melhores filhós, as melhores sopas. Era uma exímia dona de casa e o cheirinho de creme Benamor era característico da sua pele logo pela manhã.
Tinha sempre uma solução, uma palavra de conforto e um miminho para mim. 

A avó ensinava as coisas que não se aprendem na escola, que ela nunca frequentou, nem aparecem nos livros, que ela não sabia ler. Não tinha conhecimento das novas tecnologias e não precisava delas. Ela não tinha a teoria, mas tinha a preciosa experiência e prática. Lembrava as datas de tudo: quando foi o casamento da tia da prima e o nascimento do sobrinho, o dia que o avô foi para a tropa e o dia que voltou, se fazia chuva ou sol e que roupa tinha usado, os feriados e dias de festa. Contava as melhores histórias detalhadas e reais. Sabia canções que mais ninguém cantava e trava-linguas que me faziam doer a barriga de tanto rir.

O casamento com o avô durou mais de 60 anos, até o meu avô morrer cerca de um ano antes dela. Isso abalou-a muito. Muito mesmo. Sempre me lembro de ela desejar morrer primeiro que ele. Perder o companheiro de vida de tantos anos deve doer mais do que se possa imaginar.

Perder a minha avó foi um valente murro no estômago para mim. Mas a morte dela sempre esteve à espreita, de mão dada aquele cancro que habitou o corpo dela mais de 30 anos e que já existia bem antes de eu nascer. Só que apesar de ter crescido, eu vivia na ilusão de que a a avó era rija, imortal talvez. Afinal de contas a barreira dos 80 já estava passada e ela continua com a mesma pele fofinha e cheirosa de sempre.

Dizem que o tempo cura tudo mas isso é mentira. Não lhe curou o cancro. Nós é que mudamos e aprendemos a lidar de maneira diferente com as coisas.

Ela nunca desejou mal para ninguém.  Nunca ouvi um palavrão vindo dela ou um praguejar mal humorado. Ela rezava pelos mortos e pelos vivos. Vivos que talvez já nem se lembrassem dela.

Faz hoje 2 anos.
E para mim ela vai ficar para sempre.
A minha avó.


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